segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amor e Desejo


  A pintura pós impressionista de Paul Gauguin, Winter Landscape (Paris, 1879), me fez pensar na solidão de inverno. O frio aumenta o desejo de ter alguém para saborear um vinho na frente da lareira, ver um filme debaixo da manta e pés familiares para encostar ao dividir a cama. Desejo de intimidade e companhia. Vivo quadro de bonança que, muitas vezes, não resiste ao tempo como as imagens das pinturas e as rimas dos poemas.
   O pandemônio que é o amor sofreu o peso da lei e o poder eclesiástico nos fazendo crer, por tempo demais, que nossos anseios nos tornavam antissociais e pecadores. Atualmente, mais indulgentes com o nosso ego, presumimos ser realistas e práticos com relação aos nossos desejos.
   Sites de relacionamentos, namoros e até de infidelidade oferecem a realização de qualquer anseio. Em nome da liberdade e da tolerância criou-se uma gama infinita de relações, do casamento tradicional ao aberto, do noivado à união estável, do ficar à amizade com benefícios. E, ironicamente, essa mesma variedade acaba dificultando a vida a dois.
   A ciranda de Drummond virou: João namorava Teresa que transava com Raimundo que ficava com Maria que traía Joaquim que estava a fim de Lili que preferia ficar sozinha.
   Se antes o casamento era indissolúvel e o amor era coisa de faz de contas, hoje rompemos qualquer relacionamento e o amor continua sendo coisa de contos de fadas.
   O que me leva a pensar: onde exatamente queremos chegar? Onde está a praticidade e o realismo dos quais nos apropriamos nas últimas décadas?
   Acho louvável quem escolhe a busca do amor ideal e a considera o propósito em si. Afinal, há de se distinguir o viver para buscar do buscar para poder viver. O primeiro é a origem das grandes descobertas, das artes e dos sonhos. O segundo é simplesmente correr atrás do próprio rabo.
   Quem sabe se pararmos de submeter o outro ao egoísmo do escrutínio brutal e começarmos a aprimorar a autocrítica, descobriríamos que cometer sempre os mesmos erros esperando resultados diferentes vai de encontro à inteligência emocional da qual falamos com tanta propriedade, que alma gêmea (cuja existência é mais do que discutível) é a metade da nossa essência como é e não como a julgamos ser e que a tolerância que imaginamos ter não passa de resignação.
   Acredito que amar não é calcular os juros dos investimentos, mas edificar a auto confiança ao perceber que não é o doar que mutila e sim o não receber. Engana-se quem pensa que não receber dói menos quando não se doa.
   Quem está disposto a amar deve estar apto ao desafio de valorizar o bom em detrimento do ruim e saber que é uma guerra que se luta pela paz.
   O livre arbítrio não está na escolha da forma e sim no que estamos dispostos a dar para conseguir o que queremos e na maturidade de aceitar as consequências dessa escolha. Querer por querer não passa de capricho porque sentir todo mundo sente, mas amar é continuar sentindo.
   Olhar o problema sob ângulos diferentes pode dar a solução, quem sabe mudando a ordem dos fatores, o produto se altere. Vale mais experimentar deixando de lado o ranço de se sentir vítima da vida e aproveitar o privilégio do bom humor sem motivo, de simplesmente sentir e principalmente, da alegria imensurável de ser.
 
"O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
Cecília Meireles